" Uma noite em que estive meditando horas longas nas coisas deste mundo,
pouco a pouco me veio um sono brando e um sonho tão jucundo que ninguém já teve, assim:
sonhei que era uma lépida e elegante borboleta voando, de pouso em pouso, sobre o néctar dulcíssimo das flores.
Tempos e tempos, uma vida inteira, andei eu com outras companheiras, numa doideira, na estação quente dos amores.
Tudo me parecia tão real, tal qual estou dizendo, e até me lembro, que, numa tarde muito fria, quando sol procurava,
um vento tão gelado de repente me assaltou,
tão mal, tão mal, fiquei, que logo ali, sobre um jasmim, morri!
Despertei: e acordado, ainda insecto morto me julguei!
que sonhos tem a gente - estravagantes!
Sonhos?! - que fosse sonho, então acreditei, mas após muito cogitar vejo só um caso emaranhado!
Justifico: é que a minha covicção de existir como insecto foi tão firme antes,
como agora é a de ser de humana geração!
Portanto: fui antes um homem que sonhava ser uma borboleta,
ou sou agora uma borboleta que sonha que é um homem?
Erro do intelecto?
Não sei..."