sábado, 14 de janeiro de 2012

Chuang Tzu e a borboleta, filosofia chinesa, cerca de 270 a.c.

" Uma noite em que estive meditando horas longas nas coisas deste mundo,
 pouco a pouco me veio um sono brando e um sonho tão jucundo que ninguém já teve, assim:
sonhei que era uma lépida e elegante borboleta voando, de pouso em pouso, sobre o néctar dulcíssimo das flores.
Tempos e tempos, uma vida inteira, andei eu com outras companheiras, numa doideira, na estação quente dos amores.
Tudo me parecia tão real, tal qual estou dizendo, e até me lembro, que, numa tarde muito fria, quando sol procurava,
um vento tão gelado de repente me assaltou,
tão mal, tão mal, fiquei, que logo ali, sobre um jasmim, morri!
Despertei: e acordado, ainda insecto morto me julguei!
que sonhos tem a gente -  estravagantes!
Sonhos?! - que fosse sonho, então acreditei, mas após muito cogitar vejo só um caso emaranhado!
Justifico: é que a minha covicção de existir como insecto foi tão firme antes,
como agora é a de ser de humana geração!
Portanto: fui antes um homem que sonhava ser uma borboleta,
ou sou agora uma borboleta que sonha que é um homem?
Erro do intelecto?
Não sei..."

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A Morte, Filomena Mónica

" A idade só será respeitada se combater pela sua posição, se mantiver os seus direitos, se fugir à tentação da dependência e se, enquanto a vida durar, afirmar o controlo sobre a esfera própria.(...) A forma ideal de morrer é com o espírito sem núvens e em plena posse de todas as faculdades, quando a natureza dissolve por si própria o que havia posto em conjunto.(...) Por isso, os velhos não devem agarrar-se aos restos da vida que ainda possuem de forma gananciosa, nem, por outro lado, abandonar-se à morte antes de isso ser necessário"- Cícero, pag.34

Economia, Moral e Política - Vítor Bento, FFMS

" Na ausência de ' âncoras ' de profundidade valorativa, a moralidade social foi-se dissipando num relativismo que tem conduzido a uma moralidade de direitos sem obrigações e feito emergir, como valores dominantes, os associados  à maximização do bem material individual imediato, dando prevalência ao material sobre o intangível, ao presente sobre o futuro, ao individual sobre o comum. A riqueza material e a sua ostentação tornaram-se os objectos dominantes do reconhecimento social, orientando os comportamentos na sua direcção"- pag.96

sábado, 17 de setembro de 2011

A Morte, Maria Filomena Mónica, FFMS, Relógio D´Agua Ed.

" (...) Em tempo de crise, os meus compatriotas estão mais ocupados a tratar da vida do que da morte, o que tem como corolário deixar o nosso fim nas mãos dos políticos, dos padres e dos médicos.(...) Quero saber, se do ponto vista moral, se justifica que, a pedido, um médico, ou outro indivíduo, ponha fim à vida de alguém." pag. 12

terça-feira, 30 de agosto de 2011

O amor / Natália Correia


De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.
E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.
Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.
Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.

O amor - A vida - A Consciência / Vergílio Ferreira

" (...) Ou reconhecemos sem reconhecer que o amor e não sei quê só dá para metade do mês e depois é tudo uma questão de o fazer chegar." 
Vergílio Ferreira, NA TUA FACE

Eu / Natália Correa

"Vem do mais recondito concerto
Uma íntima voz que me confunde.
Alguém em mim invade-me e desperto
Noutro ser que subtil em mim se infunde.

E sou eu todavia longe e perto
Buscando a luz que a unidade funde
De contrários perfis. Só o deserto
De em nenhum rosto achar-me me responde"

Natália Correa, POESIA sonetos românticos, VI